Artigo

Escrita Criativa para Profissionais da Saúde

By 16 de outubro de 2019 No Comments

Há muito tempo penso sobre como trabalhar na área da saúde me afeta. Esse trabalho, que para mim é um projeto de vida, sempre me ensinou, e ainda ensina, coisas que os livros e professores não nos contam. Observo tudo à minha volta, sempre. Algumas vezes, o que vejo pelos meus olhos me entristece e, então, tento inverter o olhar. Tento ver pelo olho do outro, pelo lugar do outro. E mais do que isso, deixo ele mostrar-me os caminhos para a ajuda acontecer. Juntos, estruturamos uma caminhada única, que leva a um tratamento também único, mas que preze por uma vida plena de sentido e de qualidade, dentro do possível.

Muito do que me marcou e mexeu comigo tem a ver com o forte envolvimento que sempre tive com meus pacientes. Trabalhar com pacientes crônicos, com sofrimento físico e psíquico ou na iminência da morte, faz-nos refletir constantemente sobre a nossa vida e isso aconteceu comigo. Além disso, passei a perceber que não sentia somente alegria ao tratar com êxito alguém; na maior parte das vezes, no meio do caminho, sentia frustração, raiva e tristeza. Pelas coisas que não podemos mudar pelo outro, pela dificuldade de comunicação com equipe, família ou paciente, pelos profissionais da saúde insatisfeitos com o que fazem e também pelas minhas limitações. Assim, aos poucos, precisei reconhecer o que sentia e passei a aceitar – e entender. Então, eu percebi que podia canalizar, na escrita, parte dos sentimentos gerados no meu dia a dia, em prol de melhorar enquanto profissional, tornando-me mais humanizada em meus atendimentos e na minha vida. 

Rita Charon e Brian Hurwitz criaram, na década de 90, um movimento chamado de Medicina Narrativa. Essa prática, que hoje é usada para todos os cursos da área da saúde, busca melhorar a relação entre os profissionais e pacientes por meio da escrita. Assim, busca-se, pelo ato de ouvir a história de doenças, ampliar a sensibilidade dos profissionais que, ao escreverem reflexivamente, melhoram a escuta e compreensão do que informa o paciente, de maneira mais abrangente do que somente um exame físico, por exemplo. 

Quando pensamos em escrita, também pensamos em treinamento literário. Para escrever bem, precisamos ler mais. Uma vida de muita leitura faz com que qualquer pessoa seja um profissional melhor, não só devido ao aumento de repertório verbal que possibilita um rápido ajuste de linguagem quando necessário. Também, e mais importante, a leitura desenvolve uma melhor escuta, pois consegue-se perceber nuances do que a pessoa quer nos dizer, incluindo a linguagem verbal e não-verbal. Assim, com um mecanismo mental aprimorado, um processo mais sutil ocorre no processamento do que ouvimos do paciente e cujo âmbito extrapola os limites técnico-biológicos. Por tudo isso, convidamos a todas e todos a viverem essa experiência conosco, no curso de Escrita Criativa para Profissionais da Saúde!

 

Dra. Fabiana Carvalho
Gestão do Conhecimento

Fisioterapeuta graduada pelo Centro Universitário Metodista do Sul; Doutorado em Medicina pela UFRGS; Mestre em Reabilitação e Inclusão pelo Centro Universitário Metodista do Sul; Especialização Lato Sensu no Tratamento da Dor e Medicina Paliativa na Fundação Universitária para o Estudo da Dor e Cuidados Paliativos UFRGS/HCPA; Pós-graduada em Acupuntura pela Faculdade de Ciências da Saúde de SP; Tem experiência clínica e de pesquisa na área de Tratamento da Dor Crônica, Neuromodulação (tDCS e TMS), Cronobiologia e Acupuntura; É docente desde 2005 em cursos de Graduação, Extensão e Pós-Graduação.

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