Fisioterapia

Vamos Falar Sobre Escoliose?

By 16 de novembro de 2018 No Comments

Falar sobre escoliose, muitas vezes, torna-se um assunto intrigante que gera inúmeras discussões sobre o tratamento e a prevenção, principalmente no meio fisioterapêutico. O principal ponto de discussão sobre esse assunto parece não ser a biomecânica, mas sim as questões neuropsicomotoras e a tridimensionalidade dessa disfunção.

Segundo PERDRIOLLE (2006), podemos definir escoliose como: “Uma curva que se desenvolve no espaço e se deve a um movimento de torção generalizado de toda coluna. Esse movimento é produzido por uma perturbação localizada que origina uma ruptura do equilíbrio raquidiano. O movimento de torção cria um dorso cavo e o faz parecer com uma deformação lateral. A seguir, esse dorso cavo será projetado posteriormente na medida em que houver piora da curvatura, criando cifose paradoxal”.

Sendo a escoliose uma alteração neuromotora tridimensional, ou seja, nos três planos de movimento, observamos no plano sagital a ocorrência do aumento ou retificações das curvaturas da coluna. Já no plano frontal ocorre o deslocamento do tronco e, por fim, no eixo transversal ou longitudinal, temos uma rotação vertebral sobre o eixo raquidiano. Os principais achados para o diagnóstico clínico postural para escoliose são a lateroflexão e a rotação vertebral, alterações também conhecidas como gibosidade.

A ação da gravidade faz com que o cérebro module constantemente o tônus postural durante a ortostase e a deambulação. As vias proprioceptivas levam até o Sistema Nervoso Central (SNC) informações sobre a posição do corpo no espaço. O córtex motor e o sensitivo fazem a interpretação desses estímulos e criam engramas motores para a execução da tarefa, seja ela orientada ou “incoordenada”.

Sabe-se que os fatores extrínsecos afetam diretamente a forma como o indivíduo age, pensa e se porta no meio, mas os fatores intrínsecos também agem no corpo, criando memórias teciduais e, muitas vezes, levando o indivíduo a uma espécie de negação corporal. Buscamos na intervenção de alterações posturais, como no caso da escoliose, a retomada do corpo pelo indivíduo como um todo, amenizando desta forma as alterações.

Então, quando olharmos uma postura escoliótica temos que ter em mente que é o corpo que desenvolveu excessos de tensões musculares por meio da busca da verticalidade e da harmonia interna relacionadas às questões psicocomportamentais que irão orientar o corpo e o gesto no espaço. Há necessidade da consciência do gesto motor e o despertar interno para esse corpo. Isso se dá por meio de exercícios que busquem a funcionalidade do movimento e a estimulação cortical.

É essencial o toque assertivo do fisioterapeuta na musculatura que deve ser ativada, de forma não passiva e com o foco para direcionar para onde deve ir o movimento e, para que  com o tempo, o paciente perceba e se autocorrija, reorganizando-se.

A psicomotricidade é a grande chave para o controle postural. E o fisioterapeuta é o grande engenheiro capaz de identificar as carências que esse corpo necessita e preparar o terreno para que o indivíduo se reconstrua com fortes alicerces no espaço.

 

BIBLIOGRAFIA:

BERTAZZO, Ivaldo. Gesto Orientado. São Paulo: SESC SP, 2014.

BERTAZZO, Ivaldo. Corpo Vivo. São Paulo: SESC SP, 2010.

BEZIERS, Marie-Madelaine. O Bebê e a Coordenação Motora: os Gestores Apropriados para Lidar com a Criança. São Paulo: Summus, 1994.

BIENFAIT, Marcel. Os Desequilíbrios Estáticos: Filosofia, Patologia e Tratamento Fisioterápico. São Paulo: Summus, 1995.

CAMPIGNION, Philippe. A Biomecânica das Cadeias Musculares e Articulares GDS: Noções Básicas. São Paulo: Summus, 2003.

PERDRIOLLE, Rene. A Escoliose: um Estudo Tridimensional. São Paulo: Summus, 2006.

RITO, Carla; MARQUES, Elsa; FILIPE, Fernanda. Escolioses Congênitas: Diagnóstico e Tratamento. Soc. Port. Med. Fís e de Reabilitação. Art. Rev., 2012.

SANTOS, Ângela. A Biomecânica da Coordenação Motora. São Paulo: Summus, 2002.

SANTOS, Ângela. Diagnóstico Clínico Postural. São Paulo: Summus, 2001.

Maíra Drago
Discente do 9° semestre do Curso de Fisioterapia – Centro universitário metodista IPA.
Formação em Escola de Postura (2014-2017)
Cursos na área da Fisioterapia Musculoesquelética
Monitora do Curso Internacional – Vitality Flossing

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