Fisioterapia

Conhecendo o Sistema Fascial

By 25 de setembro de 2019 No Comments

O profissional Fisioterapeuta busca cada vez mais uma prática baseada em evidência, tornando necessário a cientificidade de técnicas vastamente utilizadas nos meios clínicos, dentre elas, a reorganização miofascial. O sistema fascial (Fascia Research Society) atualmente vem sendo alvo de diversos grupos de pesquisas, porém ainda possui um longo caminho.

O que sabemos até então é que esse componente de tecido mole, pertencente ao tecido conjuntivo, conhecido também como tecido conectivo, permeia todo o corpo humano, tornando-se uma matriz estrutural única e contínua, de tensão restritiva, porém ajustável, em torno dos ossos e cartilagens (Findley e Schleip, 2007; Myers, 2010).

Relacionada a função, a fáscia já não é mais descrita meramente como uma folha de fibras de colágeno e elastina agindo como uma barreira estrutural. Alguns pontos estão determinados: (i) a fáscia parece estar integralmente envolvida na biomecânica do sistema musculoesquelético (Gerlach e Lierse, 1990); (ii) é um componente metabolicamente ativo, uma unidade elástica, contrátil, sensitiva e altamente vascularizada (Mccombe et al., 2001; Schleip et al., 2005); (iii) envolvida na transmissão de força (Benjamin, 2009; Marinho et al. 2017); (iiii) e pode se tornar inflamada e potencialmente causar dor (Bednar et al., 1995).

Já referindo-se a disfuncionalidade dessa estrutura, alterações podem ser devido: (i) a matriz extracelular é projetada com certa distribuição que possibilita o fluxo livre de metabólitos, sendo assim, um estresse crônico de uma área resulta em aumento da deposição de fibras de colágeno e diminuição da hidratação, resultando em diminuição da nutrição para determinadas células (Myers, 2010); (ii) alteração da vascularização tecidual poderia limitar ou impedir o deslizamento dos tecidos miofasciais durante a imposição de forças, na realização das atividades da vida diária, podendo vir a ocasionar aderências, contraturas e dor (Lewit e Olsanska, 2004); (iii) quando o ácido hialurônico se torna mais viscoso e menos lubrificante, ocorre menos deslizamento entre as estruturas, as linhas de força entre as camadas se modificam e os receptores presentes na fáscia passam a ter um limiar nociceptivo maior causando densificação deste tecido (Chaitow, 2017). Desta forma, supõem-se que o tecido conectivo estirado em uma área, poderia levar restrição, inflamação (aguda ou crônica) e dor local ou distante (Mckenney et al., 2013).

Stecco e colaboradores (2019) publicaram uma revisão relacionada a dor no tecido conectivo. Como principais achados descreveram: (i)  presença de inervação que está relacionada a propriocepção e percepção de dor; (ii) as fibras nervosas da fáscia profunda podem ser peptidérgicas ou não peptidérgicas; (iii) os destinos de rede são ambos os tipos Aδ e C; (iiii) há um aumento das fibras nociceptivas na aponeurose toracolombar cronicamente inflamada mostrando que a fáscia pode sofrer alterações patológicas que levam ao agravamento dos sintomas em longo prazo. Os autores ainda acrescentam que, enquanto a pele está relacionada à dor somática superficial, os padrões de inervação da fáscia profunda provavelmente seguem os miótomos em vez dos dermátomos e que, a dor referida às nádegas, coxa posterior ou panturrilha posterior não pode ser devida à compressão radicular, mas à tensão excessiva da fáscia profunda ao longo de uma linha de força específica.

Porém, uma crítica fundamental na realização das intervenções no sistema fascial, já que a mesma vem se difundindo cada vez mais, é que os profissionais que a realizam devem ser capazes de tentar especificar com mais precisão a metodologia utilizada, incluindo protocolo e localização que pretendem tratar em cada caso. A terapia manual tem mostrado grande variação na técnica e força aplicada individualmente por terapeutas, o que se torna um problema fundamental nas pesquisas que analisam os resultados das técnicas. O que não significa que no ambiente clínico a prática da reorganização miofascial deve ser descontinuada, uma vez que a falta de evidência não implica a inexistência de um efeito. Mas sim, é necessário verificação das abordagens de tratamento por meio de pesquisas com boa qualidade metodológica.

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