Fisioterapia

Resumo de Artigo Científico: Fibromialgia e Sistema Modulatório da Dor

By 12 de março de 2019 No Comments

Esse artigo foi escrito com muito carinho, com dados da minha Tese de Doutorado finalizada. O artigo original foi publicado em 2019 na Revista Medicine, com o título: Potency of descending pain modulatory system is linked with peripheral sensory dysfunction in fibromyalgia. Nesse projeto, trabalhamos com pacientes com fibromialgia, uma doença caracterizada por dor crônica generalizada e cujo mecanismo fisiopatológico está relacionado à disfunção do sistema nervoso central e periférico. É sobre isso que este artigo trata. A fibromialgia (FM) é uma síndrome que compreende dor generalizada crônica, geralmente descrita como ocorrendo em tecidos somáticos profundos (ou seja, em músculos e articulações), acompanhada de fadiga, transtorno do ritmo circadiano, ansiedade, depressão e catastrofização da dor. Os pacientes, na maioria mulheres, apresentam alto desconforto, incapacidade funcional, irritabilidade intestinal/bexiga e sensibilidade anormal à dor para pressão e estímulos térmicos, frequentemente descritos como sensações de queimação ou formigamento. Recentemente, um modelo fisiopatológico cada vez mais aceito para a FM atribui as alterações do sistema nervoso central e periférico (tanto funcionais quanto anatômicas) como responsáveis pelo amplo espectro do quadro clínico.

Por isso, entendemos que a neuropatia de pequenas fibras nervosas têm implicado em dor física e psicofísica. Para entender o papel potencial do envolvimento do sistema nervoso periférico na FM, é relevante abordar a fisiologia da nocicepção. As sensibilidades ao calor e ao frio envolvem fibras específicas, que têm uma faixa de temperaturas médias da pele em repouso (25 a 35 ° C). Essas fibras são ativadas por estímulos limiares que disparam fibras aferentes de baixo limiar, que convergem para os neurônios do trato espinotalâmico nociceptivo. Esses estímulos convergentes estão associados à lesão do nervo e podem induzir apoptose seletiva de interneurônios inibitórios. Esse processo diminuiu a expressão dos receptores inibitórios e culmina com uma maior percepção de estímulos nociceptivos repetitivos, isto é, soma temporal e espacial. Ambos os fenômenos compreendem um mecanismo primário da fisiopatologia das síndromes de dor neuropática, mas também tem sido apontado como possível mecanismo na FM. No nosso estudo, exploramos a disfunção de pequenas fibras associadas à disfunção do sistema modulatório descendente da dor na fibromialgia. Fizemos um estudo transversal recrutando 41 mulheres com FM e 28 mulheres saudáveis.

Usamos um equipamento que avalia o limiar térmico ao calor, limiar de dor ao calor, a tolerância a dor térmica e a tarefa de modulação da dor condicionada. Também avaliamos o limiar de dor por pressão através da algometria por pressão. Usamos escalas para avaliar o nível de catastrofismo, ansiedade, depressão e distúrbios do sono. Pacientes com dor crônica têm muita oscilação na qualidade do sono, não dormem direito. Além disso, também são pessoas mais isoladas, preferem ficar sozinhas com sua dor. Têm maiores níveis de depressão comparadas com pessoas saudáveis. Para verificar nossa hipótese, coletamos sangue para avaliar os níveis de uma neurotrofina chamada BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro).

Esse fator neurotrófico contribui para diminuir o limiar de dor em pacientes com FM e aumentar a sensibilização central. Está envolvido no processo de desinibição relacionado à diminuição de efetividade das vias inibitórias da dor descendente e com o aumento da facilitação intracortical. Além disso, está associada à gravidade e ao curso clínico dos transtornos de humor.

Levando isso em conta, nossa hipótese foi de que a disfunção de pequenas fibras periféricas poderia estar relacionada à disfunção do sistema modulador da dor descendente na FM. Assim, conduzimos este estudo exploratório para examinar se a disfunção da fibra pequena na FM está ligada a um mau funcionamento no sistema modulador da dor descendente.

Como resultado, este estudo confirmou nossa hipótese de que a disfunção sensitiva periférica está associada ao desengajamento do sistema de freio da dor, ou sistema modulatório descendente da dor na FM, mas não em indivíduos saudáveis. Assim, nas pacientes com FM, a disfunção nesse sistema está inversamente relacionada com o BDNF sérico. Ou seja, quanto maior a desinibição, menor é o nível de BDNF.

 

Artigo: Brietzke, A. P.; et al. Potency of descending pain modulatory system is linked with peripheral sensory dysfunction in fibromyalgia: An exploratory study. Medicine, 2019.

Profa Dra Aline Patrícia Brietzke

Enfermeira com mestrado (2013) e doutorado (2018) em Medicina: Ciências Médicas pela UFRGS com experiência em trabalhar com dor crônica e neuromodulação. Atualmente, professora titular do Instituto de Educação e Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento (HMV) no Curso de Pós Graduação. É enfermeira assistencial da Unidade de Diagnóstico por Imagem do HMV com experiência em exames diagnósticos por imagem e Medicina Nuclear.

Clique aqui para baixar o artigo

Leave a Reply

X